Parece estranho perguntar a alguém se esta pessoa lembra da existência dos DVDs, afinal de contas, este disco era onipresente, símbolo de modernidade em oposição ao ultrapassado VHS. Porém, quase não se encontra alguém que ainda possua um leitor de DVD em casa. O que me faz pensar sobre a velocidade com que o tempo passa. Então resolvi lembrar um pouco sobre o período áureo desta mídia.
Como todos os sabem, este disco foi criado nos anos 90, mas ainda no começo dos anos 2000, o VHS reinava absoluto. No Brasil, foi só a partir de 2003 que o DVD começou a se popularizar, mas a partir daí, a transição foi rápida.
No início, os aparelhos de DVD eram grandes e pesados, semelhantes a videocassetes. Já a mídia, era composta em média por menus estáticos e falta de bônus especiais, além de não poder gravar programas direto da televisão. No entanto, o que chamava a atenção era a sua resolução elevada para os padrões da época, assim como o fato de não haver necessidade de rebobinar (diferente do VHS). Os preços salgados atrapalhavam o consumidor brasileiro, por isso as videolocadoras ainda eram um alternativa popular ao longo dos anos 2000.
As empresas, então, apostaram no colecionismo para forçar o público a aderir à nova mídia. Em 2004 pode-se dizer que os DVDs atingira o ápice no que se refere à qualidade. Depois disso, não haveria outra época com tanto material extra. Horas e horas com making of, cenas deletadas, comentários em áudio, joguinhos, etc. Sem falar que muitos títulos tinham duas versões, a convencional e a edição especial, com ainda mais recursos. Além disso, os estúdios estavam empenhados em relançar filmes e séries antigos no novo formato, com imagem e sons remasterizados (resolução 480p). Isto, somado ao widescreen, formavam um prato cheio para os cinéfilos. Por outro lado, o público casual frequentemente se incomodava com as tais "barrinhas pretas" em cima e em baixo da imagem, preferindo dar zoom (e perder parte do conteúdo da imagem) ou comprar a versão fullscreen.
Outra vantagem do DVD em relação ao VHS, eram as múltiplas faixas de áudio e legenda em uma mesma mídia, diferente da fita, na qual se tinha uma versão dublada e outra legendada.
Alguns estúdios adotaram ainda onda outras estratégias, como a inclusão da revolucionária tecnologia Dvix. Com ela, era possível comprimir vários filmes em um disco só, e sem muita perda de imagem. Marcas de eletrônicos ostentavam isto como vantagem, mas em pouquíssimo tempo foi esquecido. Outra estratégia, esta bem questionável, foi o Disney FastPlay, que de rápido não tinha nada. Basicamente era uma forma de adaptação dos consumidores de VHS à nova mídia. Aparecia um menu de apenas 5 segundos, se você não clicasse em nada, o DVD iria reproduzir todos os trailers possíveis e só depois o filme. Era uma adrenalina ter que pegar rapidamente o controle para ir direto ao menu. A suposta vantagem era que aqueles que não estivessem habituados aos comandos e menus de DVD, poderiam simplesmente sentar e esperar o filme começar, sem mover um dedo. Porém, esta adaptação era inútil na maioria dos casos.
E por falar em menus, estes era uma arte por si só. Naquele tempo, eles eram dinâmicos e chamativos, podendo conter até botões secretos (que geralmente levavam a minigames).
Os DVDs acabariam por reinar de forma absolutamente ao longo da década, muito graças ao PlayStation 2. Surfando neste onda, as gravadoras de música passaram lançar, além dos já consagrados CDs, DVDs de áudio e DVDs de videoclipes.
Bem, tudo isto é muito bacana e tal, mas...e o submundo dos DVDs? Pois é, haviam inúmeros propagandas que tentavam assustar o expectador com a ideia de que a pirataria financiava o crime organizado, porém...não surtiu muito efeito. No final dos anos 2000, as pessoas cada vez mais apostavam em camelôs, onde compravam um DVD idêntico ao original por um menor preço. O problema disso era cada vez mais a qualidade do produto foi decaindo. Versões autoradas surgiram com imagem de cinema, má qualidade de gravação (às vezes ripadas diretamente de VHS ou parabólica), erros de ortografia, capas toscas, coleções sem sentido (ex.: Duro de Matar 3 + Backyardigans + Family Guy), e sem falar em inserções de pegadinhas (como jumpscares).
No meio de tudo isso, surgiram algumas coisas interessantes, como os tais clipes animados. Eram uma espécie de "AMVs", nos quais uma música do momento era colocada ao fundo de alguma animação.
Quem não quisesse ficar à merce dos autorados, e tivesse alguma noção de computador, poderia fazer seus próprios discos com o "Nero". Importante era colocar uma baixa velocidade de gravação , porque do contrário seu DVD iria ficar mal gravado (era o que diziam). Além disso, era importante escolher bem entre os variados formatos (DVD-R, DVD+R, DVD+RW, DVD-RW, etc.)
Houveram ainda os players de DVD que vinham com gravadores, desta forma se poderia ripar a imagem da TV igual a como se fazia com o VHS. Era possível escolher entre as velocidade SP, LP, EP e XP, na qual havia uma relação inversa entre qualidade da imagem e tempo de duração do conteúdo. Com a qualidade máxima (480p), você poderia gravar em média duas horas de filmes. Já com a qualidade batata, o céu era o limite...
Outro uso do DVD (eu disse que ele era onipresente) era o armazenamento de dados. Antes dos pendrives se popularizarem, este disco era a principal forma de transporte de fotos digitais e programas de computador, substituindo o limitado espaço do CD.
Além disso, surgiram outros formatos análogos ao DVD, um deles era o mini DVD, basicamente uma versão reduzida e com menor espaço de armazenamento (geralmente utilizado para lançamento de filmes de 40 minutos).
Outro formato relevante era o VCD, uma versão visual do CD, com resolução de 360p. Em países do sudeste asiático, era utilizado como alternativa ao DVD. No Brasil serviu apenas como brinde de livros infantis.
Enfim, isto foi um pouco da história do DVD nos anos 2000. Interessante notar como este formato moderno e prateado logo se tornaria obsoleto. Pense a respeito, você precisava sair de casa para comprar (ou alugar) um filmes, tirá-lo da capa e colocá-lo em um aparelho conectado a sua televisão de tubo. Depois, esperava de 10 minutos de comerciais para enfim chegar ao menu de seleção, onde dali você chegaria a um filme em resolução 480p. E ainda corria o risco de ter sua sessão interrompida por uma sujeira no disco. Diferente do VHS, o DVD não perdoa. Ou pulava uns 15 minutos de filme, ou simplesmente parava por ali. Aí você tinha que tirá-lo da bandeja, passar um pano em movimento circular e colocar de novo no aparelho. Se tivesse sorte, o filme recomeçava no momento em que tinha parado. Num cenário pior, o disco sofria um arranhão e ficava parcial ou totalmente irreproduzível.
Em casos mais raros, o seu aparelho de DVD poderia ficar sujo igual um videocassete, e aí você poderia passar um disco de limpeza. Mas aí já é muita frescura...
Que fim levou?
Para armazenamento de dados, não levaria muito tempo para o DVD perder espaço para o pendrive. Já no começo dos anos 2010, eles perdeu espaço para o novo formato.
No cenário da música, o DVD nunca chegou a ultrapassar o CD de qualquer forma, mas assim como este acabou sendo vencido pelos lançamentos digitais em 2014.
Os discos continuaram sendo o meio dominante para filmes até meados dos anos 2010. Porém, suas vendas seriam afetadas pelo advento da pirataria. Este cenário prejudicou as distribuidoras, que cada vez mais reduziram a quantidade e a qualidade dos lançamentos, havendo poucos (ou nenhum) material colecionável adicional. Porém, o DVD só foi perder o seu posto de liderança em 2016, quando o lucro dos streamings ultrapassou pela primeira vez o dos discos, fazendo com que estes rapidamente se tornassem um mercado de nicho.
Computadores não vem mais com drive de DVD. Aparelhos especializados não são produzidos no Brasil (desde 2022) e as grandes distribuidoras já abandonaram o mercado nacional (desde 2023). Hoje em dia, as pessoas se sujeitam aos streamings, onde você passa por uma enorme lista de filmes sem saber o que escolher. Se corre o risco de ter seu filme retirado do catálogo, censurado, ou mesmo ter que assinar vários serviços para ter as produções do seu interesse.
Bônus Especiais
Como material extra, deixo algumas vinhetas de DVDs dos anos 2000:
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