A internet possui o seu próprio sistema de escrita, e o miguxês foi uma variante do internetês, muito utilizada nos anos 2000 (felizmente abandonada).
Emo falante de miguxês
O internetês surgiu como uma forma de agilizar a escrita na internet, utilizando abreviações e omitindo acentos. Algumas expressões caíram em desuso, tais como "tc" (teclar) e "Koapkoapkoap" / "kpkpkp" (risada). Outras continuam a ser utilizadas até hoje, a exemplo de "vc" e "pq".
O miguxês (também conhecido como mIgUxEiX ou fofolês) surgiu nos anos 2000 como uma suposta evolução do internetês clássico, mas ao invés de encurtar as palavras, fez justamente o contrário. Recebe esse nome porque teoricamente deixa a escrita mais "fofa", imitando o linguajar infantil.
Comunidade de miguxês no Orkut
Depois veio o neo-miguxês, o qual faz uma alternância entre letras maiúsculas e minúsculas, talvez por questões estéticas. Veja um exemplo abaixo (fonte):
Português correto: “Eu tenho saudades de sair com o meu amor.”.
Miguxês: “eu tenhu saudadis d sai kom u meu amor.”.
Neo-Miguxês: “eU tEnHu SauDaDixXx di sAi kUm U Meu AMoR.”
Esta escrita era comumente utilizada por adolescentes do sexo feminino, sendo mais uma forma de identificação com uma tribo da internet do que uma forma de facilitar a vida (porque realmente não ajuda em nada, leva-se mais tempo para entender coisas básicas).
Aproveitando o tópico, outras formas de linguagem comuns na internet dos anos 2000 eram o tiopês, o qual consistia em escrever propositalmente errado (cerumano, comofas, concegi, corrão), e o 1337 (ou Leet), linguagem utilizada por hackers para driblar os sistemas de chats, possibilitando discutir temas mais pesados. Exemplos abaixo (fonte):
O miguxês perdeu força no começo dos anos 2010, tendo em vista a falta de praticidade e o fato de estar muito ligado a uma tribo específica da internet. O mesmo vale para o tiopês.
O leet, por sua vez, perdeu força já na virada da década, já que com o tempo qualquer um poderia decifrar seu significado.
Os jogos de flash eram umas principais saída para quem quisesse jogar na lenta internet dos anos 2000. Seja em casa ou nas aulas de informáticas da escola, eles eram incrivelmente versáteis para os padrões épocas. O que não faltavam eram opções de sites (iGuinho, AulaVaga, ClickJogos, Racha Cuca, Danny Pink, Papa Jogos, etc.).
Click Jogos, o mais popular
AulaVaga, o mais educativo
E se não fosse na internet, ainda haviam CDs que vinham com revistas de games e traziam centenas (ou até milhares) de jogos do tipo. Um exemplo é a Digerati, da qual você pode saber mais neste post.
A maioria dos jogos obviamente eram para crianças, mas traziam dinâmicas únicas e instigantes. Um exemplo seria o Raft Wars, o qual envolvia uma batalha épica de dois irmãos tentavam defender sua jangadas de invasores.
Haviam jogos mais complexos e hoje em dia certamente seriam lançados como indie. Um exemplo é Harry the Hamster 2 (2006), que implicava na exploração do mapa-mundi em busca de peças de um disco de ouro egípcio.
Era comum que as produtoras apostassem em personagens conhecidos e fizessem seus jogos não-oficiais. O que não faltavam eram games falsos do Mario...
Super Mario Revived (2007?)
Aproveitando-se desta facilidade, haviam empresas que faziam jogos temáticos de seus produtos, como foi o caso do cereal Froot Loops.
Froot Loops: Black Beak's Treasure Cove! (2007)
Um que você deve ter gastado muitas horas certamente foi o "Jogo Mais Difícil do Mundo" (2007).
*Que fim levou?
Os jogos flash ainda eram uma opção comum no começo dos anos 2010. Porém, a queda do Adobe Flash frente ao HTML 5 (culpa do Steve Jobs) fez com que a empresa encerrasse o suporte em 2020. Com isso, muitos jogos em flash foram perdidos, restando o que foi preservado em acervos como o Internet Archive e o Flashpoint (este é um emulador).
De toda forma, o interesse por este tipo de game já estava em declínio há alguns anos, muito devido ao aumento da velocidade da internet e do poder de processamento dos PCs, além da popularização dos smarthpones.
*Bônus Especial
-Veja mais sobre os jogos em flash que vinham nos CDs de revistas (aqui)
Em 24 de janeiro, o Orkut foi lançado nos Estados Unidos. Por mais que tenha conseguido certa audiência estrangeira nos primeiros anos, quem viria a ser o maior utilizador seria o Brasil, chegando a ter mais de 30 milhões de usuários.
Sendo assim, a versão portuguesa do Orkut estreou em 5 de abril de 2005, possibilitando que já em 2006, a rede social se popularizasse no país, se tornando a primeira do tipo a cair no gosto dos brasileiros. Este sucesso foi tamanho que a sede da empresa foi transferida para o Brasil em 2008.
No começo da rede social, esta não era aberta ao público, sendo necessário o recebimento de um convite. Esta estratégia gerava um ar de mistério, e contribuiu para o sucesso do Orkut, especialmente no Brasil.
Um dos principais atributos do Orkut, e o motivo pelo qual ainda defendo esta rede frente às modernas, é a existência de comunidades. Estas, geralmente com títulos engraçados e pretenso ar de solenidade, possibilitavam a criação de tópicos, as quais facilitavam o acesso ao conteúdo da comunidade de forma mais organizadas que os grupos e correlatos das novas mídias. Algumas das principais podem ser vistas abaixo:
Uma das funcionalidades mais originais eram os scraps, espécie de mural de mensagem, no qual os amigos deixavam recados. Você tinha a opção de deixar tudo ali para todos verem, ou simplesmente apagar (leio, respondo e apago).
Infelizmente não haviam mensagens privadas, então era isso ou ou optar pelos depoimentos, os quais seria declarações públicas deixadas no perfil do usuário, mas que poderiam ser utilizadas para driblar esta situação, já que precisavam ser aprovadas pelo dono do perfil antes de serem publicadas. Assim, conversas íntimas poderiam ocorrer, desde que o usuário não aprovasse as mensagens recebidas. Por outro lado, haviam aqueles que disputavam o topo da lista de depoimentos, a fim de mostrarem que eram mais importantes para aquela pessoa.
Também cabe citar a "sorte do dia", frase motivacional deixada pelo próprio Orkut ao abrir a rede social.
Podia-se ver quem visitou seu perfil, algo que faz falta hoje em dia.
Os usuários poderiam ser categorizados uns pelos outros como "legal", "confiável" ou "sexy", construindo assim a sua reputação. Outro indicador de popularidade era o número de fãs. Ambas as métricas geravam competição entre os amigos.
Porém, a parte mais legal eram os jogos, entre eles o BuddyPoke, jogo em que podia criar um avatar com a própria aparência e interagir com os dos outros, além do clássico Colheita Feliz, o qual dispensa apresentações.
Em 29 de outubro de 2009, o Orkut passou por uma grande reformulação, a qual ficou conhecida como o Novo Orkut. Foi feita uma grande campanha de divulgação, e somente aqueles com os convites poderiam acessar esta versão. Com o tempo, o Novo Orkut foi disponibilizado ao grande público. Algumas das principais novidades era a integração com o Google Talk (um chat), adição de um feed de notícias, e a possibilidade de personalizar as cores e o tema do perfil, mudando do tradicional azul para amarelo, rosa e vermelho, além dos vários novos modelos de perfis (Natal, Ano Novo), etc.. Antigamente, isto era possível somente com o uso de extensões duvidosas, as quais não permitiam que os demais usuários visualizassem as modificações.
*Que Fim Levou
O Orkut começou a perder usuários em massa no ano de 2011, finalmente sendo ultrapassada pelo Facebook, em dezembro do mesmo ano, e pelo Twitter, em 2013. Foi desativado em 30 de setembro de 2014.
*Bônus Especial
-Sugestão de leitura: https://www.tecmundo.com.br/infografico/8273-o-tamanho-do-orkut-no-brasil.htm
Este artigo de 2011 comenta sobre o sucesso da rede no Brasil e profetiza que a relação de sucesso entre o país e o Orkut ainda perduraria por muitos anos. Algo curioso e até meio melancólico de ser ler hoje em dia, tendo em vista que em apenas três anos a rede foi simplesmente extinta, resistindo apenas nas memórias.
O YouTube dos anos 2000 guarda muitas surpresas, incocebíveis para os de hoje. Confira abaixo algumas pérolas daquela época...Sim, continuamos sem tempo, mas sábado estaremos de volta...
Lembra de quando os programas de TV faziam episódios de recapitulação a fim de economizar? Pois é, ficamos sem tempo para escrever, então teremos que fazer algo parecido... Fique com essa compilação de pérolas do YouTube dos anos 2000:
Tópico aleatório do dia: apresentações de PowerPoint. Antes das atuais mensagens de bom dia do WhatsApp, as pessoas (leia-se, tias da internet) nos anos 2000, a recém desbravando o mundo digital, também gostavam de espalhar mensagens reflexivas para os outros. Em uma época sem as tecnologias de hoje, a principal forma para tal era enviar apresentações de PowerPoint pelo Hotmail.
Tratavam-se de slides automáticas, com uma música de fundo, imagens de flores e textos que apareceriam e sumiam. Mais elaborado que hoje em dia, diga-se de passagem.
Nem sempre eram coisas emocionais, também se tinham aquelas mais cômicas...
E as apresentações sempre terminavam com a informação do email do autor original daquele PowerPoint. Mais para o final da década, também começaram a surgir os recados do Orkut, mais semelhantes ao que se tem hoje.
*Que fim levou?
Nos anos 2010, os e-mails foram amplamente substituídos pelos mensageiros instantâneos no uso do dia-a-dia. A maior proliferação desta plataforma permitiu o surgimento e a repetição exaustiva de certos “vícios”, como as risadas irritantes e o uso de I.A.
Copypastas são textos da internet copiados repetidamente,
espalhando-se como uma espécie de lenda urbana. Eram extremamente comum nos
anos 2000, época em que eram utilizados especialmente para transmitir
“correntes” assustadoras. Inicialmente,
viam como mensagens ou imagens sinistras enviadas de email em email. A mais
popular dos primórdios da internet foi o Smile Dog.
Quem olhar para esta imagem terá pesadelos
Com o passar dos anos, também passaram a ser republicadas no
Orkut, por exemplo. Uma das mais populares da época foi a da Samara, publicada
pela primeira vez em 2007:
“Oi, meu nome é Samara, tenho 14 anos (teria se estivesse
viva), morri aos 13 em Cascavel-PR. Eu andava de bicicleta, quando não pude
desviar de um arame farpado. O pior foi que o dono do lote não quis me ajudar,
riu bastante de mim. Após agonizar por 2 horas enroscada no arame, eu faleci.
Através dessa mensagem eu peço com que façam com que eu possa descansar em paz.
Envie isso para 20 comunidades e minha alma estará sendo salva por você e pelos
outros 20 que receberão. Caso não repasse essa mensagem, vou visitar lhe hoje à
noite, assim você poderá conhecer o tal arame bem de pertinho.
Dia 15 de julho, Mariana resolver rir dessa mensagem, uma
noite depois ela sumiu sem deixar vestígios. O mesmo aconteceu com Karen, dia
18 de outubro. Não quebre essa corrente, por favor. A não ser que queira sentir
a minha presença.”
O termo surgiu em 2006, e atingiu seu ápice em 2009. Não
eram destinadas só para assustar, mas também para provocar irritação.
*Que fim levou?
As copypastas perderam força nos anos 2010, com a
centralização da internet. Correntes deste tipo não são mais tão comuns, embora
ainda existam piadas frequentemente repostadas por aí.
O Windows XP foi lançado em 25 de outubro de 2001, logo se tornando o OS mais popular do mundo e da história. Seu design marcante, recursos inovadores e estabilidade o colocam certamente no hall da fama da computação (se é que isto existe). No post de hoje, relembramos um pouco desta história.
Nos primeiros anos, as pessoas estavam um pouco relutantes para migrarem para o lançamento, seja pelas mudanças drásticas em relação ao dominante Windows 98, seja oque se refere à sua estabilidade, que no começo era problemática. Mas após o seu primeiro service pack, ele cresceu a ponto de atingir a liderança já em 2003. Em 2007, com mais de 70% de participação de mercado, foi declarado o maior de todos os tempos.
A principal novidade que trazia era a possibilidade de múltiplas contas, isto em uma época que a família tinha de dividir um único computador. Sua interface Luna, também se mostrou um dos atrativos, muito mais personalizável que a 9x. Além do azul tradicional, havia o verde, o cinza, o laranja, e o clássico (para os experientes que já estavam acostumados com o design dos anos 90). Por outro lado, muitas pessoas resolviam ir atrás de temas personalizados (eis uma vantagem de uma época em que existiam temas).
Diferentes usuários, diferentes fotos
Tema personalizado
E há quem quisesse personalizar até a tela de inicialização.
O menu iniciar aumentado permitia maior número de atalhos e uma organização melhor. A versão Professional também permitia o retorno ao antigo design (Windows XP podia agradar a todos).
Sobre os wallpapers, estes sendo dúvidas eram um dos pontos fortes. Enquanto os sistemas anteriores eram mais conhecidos por seus papeis de parede mais padrão, o XP trazia fotografias muitas das quais viriam a se tornar icônicas.
Bliss
Autumn
Azul
Padrão
Os ícones traziam um bom meio termo entre o maximalismo e a simplicidade, algo que os sistemas mais novos falham em alcançar.
O departamento musical também desperta muita nostalgia, desde as trilha de inicialização e desligamento, passando pelos sons do sistema, até chegar na música desinstalação.
Naquela época também era comum a presença de jogos pré-instalados. Tinha o Paciência da aranha, bom para jogar enquanto se escuta rádio ou alguma música. Campo Minado, Copas, e o clássico Pinball 3D. Est último rendeu várias horas bem gastas sem fazer nada.
A palavra da vez era personalização, e a presença dos novos Media Player e Movie Maker eram marcas disto. Para quem não quisesse obdecer a Microsoft, se podia optar pelo Winamp (para músicas) e pelo PowerDVD 5.
Winamp
Sobre o Movie Maker, que falta faz um editor pré-instalado no PC. Tem horas que o cara quer só fazer uma edição rápida e precisa abrir um trambolho de software. E aquela versão do Movie Maker era uma mão na roda, com mais recursos e mais profissionalismo em relação às versões posteriores.
E é claro que eu não poderia deixar de falar da internet. Até 2006, no Brasil, a maioria ainda utilizava a discada. E mesmo quando veio a banda larga, ainda era uma coisa lenta. O tempo de carregamento dos vídeos do YouTube eram um martírio por si só.
O principal navegador era o Internet Explorer 6. O público casual não se importava, mas os programadores odiavam ele com todas as forças, devido à sua baixa compatibilidade com o HTML. Por sorte, em 2007 e 2009 foram lançadas as versões 7 e 8 do navegador, mais adaptadas às novas linguagens. Alguns preferiram migrar para o Firefox.
Internet Explorer 6, 7 e 8
Outra característica peculiar do XP era a presença dos assistentes de escritório, que viviam passando dicas s. Entre eles havia o cachorro Rover, o mago Merlin, e o mais conhecido de todos, o clipe (Clippy). Sucesso entre alguns, detestável pela parte de outros, ele vinham no Office XP e no Office 2003. Infelizmente, o insucesso dele levou a não estar mais disponível na versão 2007 a qual também contava com mudanças drásticas no design que acabaram por receber certa resistência inicial por parte dos usuários.
Enfim, o XP acabou marcando a vida da geração que utilizava computador nos anos 2000, estando atrelando à várias lembranças nostálgicas da época: MSN, Orkut, Nero, discador IG, etc.
Que fim levou
Continuou dominante até 2011, quando perdeu liderança para o Windows 7. Mesmo assim, continuou popular até 2014, quando teve seu suporte encerrado, caindo para a terceira colocação.
Seja como for, será para sempre lembrado como o símbolo máximo da década de 2000, e o sistema operacional mais popular de todos os tempos.
Nos anos 2000, uma das maiores dificuldades de quem usava internet era se deparar com a foto do Jeff the Killer. Se deparar com aquela imagem, especialmente à noite, era combustível de pesadelo. Infelizmente, a lenda que acompanhava a foto não era tão interessante quanto a imagem em si... Mas naquela época assustava...
Reupload do vídeo original
A história original surgiu em 2008, quando um usuário chamado Sesseur postou um vídeo contando como Jeff tentou limpar seu banheiro com ácido, mas acabou salpicando o próprio rosto. Depois disto, ele nunca mais foi o mesmo, estando disposto a fazer um favor ao mundo e se livrar dos seres humanos.
Nesta época, frequentemente era inserido em outras fic, com outras histórias envolvendo o confronto de Jeff com valentões, os quais incendiaram seu rosto. Por causo disto, ele se tornou um emo deprimido e revoltado que desenvolve uma afeição doentia pelo próprio rosto, cortando-o com uma faca a fim de formar um sorriso. A propósito, ele também retira as pálpebras par poder admirar sua bela face...
Depois, surge a lenda de que o assassino aparece no quarto de suas próximas vítimas, observando-as e esperando que acordem apenas para dizer "Vá dormir". Se a pessoa não obedecer, ele mata.
Os anos 2000 foram um pouco estranhos.........por um lado, muitas não conseguiam nem olhar para aquela imagem, enquanto que outras se apaixonavam pelo Jeff.
O número de fanarts emo do Jeff era absurdo
Autoria desconhecida
Nestas fanfics surgiu Jane the Killer, uma jovem que teve seu pais mortos por Jeff em um incêndio. Como resultado do incidente, ela teve o rosto queimado, e jurou se vingar do assassino.
Mais combustível de fanfic emo
Ainda em 2008, surge o boato de que a imagem sinistra que tornou a história famosa teria sido a versão photoshopada da foto de Katy Robinson, uma jovem usuária do 4chan, a qual teria cometido suicídio com a zombaria de outros membros da comunidade por causa de sua aparência. Sesseur negou, alegando que o próprio teria produzido a imagem, vestindo-se com uma máscara de látex.
Antes do vídeo, a foto já rondava no Newgrounds e no 4chan. Descobriu-se recentemente que a imagem existem desde 2005 na internet japonesa, em um site chamado pya.cc, onde havia uma versão ainda mais antiga da mesma. Infelizmente, ainda não se descobriu a fotografia original.
versão antiga (2005)
Uso da imagem ainda em 2007, antes do surgimento da creepypasta
*Que fim levou?
Tanto a imagem quanto o personagem continuaram sendo utilizados da mesmas diversa formas, tanto em creepypastas ou vídeos de susto, quanto em....fanfics emo.
Ao longo dos anos 2010, as pessoas perderam o interesse em Jeff the Killer, assim como nas creepypastas como um todo. Recentemente, a história recebeu novamente atenção, quando se iniciou uma busca para identificar origem da foto, mas isto é assunto para outro blog.
As histórias de terror sempre atiçaram a curiosidade dos desavisados. Com o advento da internet, as antigas lendas urbanas foram substituídas pelas creepypastas, a versão moderna de "contar histórias em torno da fogueira". Hoje em dia podem estar um pouco fora de moda, mas nos anos 2000 eram o ápice, sendo capazes de gerar noites de pesadelos e traumas de infância, numa época que a internet ainda era nova e as pessoas acreditavam neste tipo de história.
As creepypastas se popularizaram em meados daquela década, quando fóruns (especialmente o 2chan e o 4chan) começaram a propagar histórias anônimas, tentando se passar como se realmente tivessem acontecido. Antes disso, era comum receber emails misteriosos contendo imagens assustadoras ou correntes com pequenas maldições, mas o terror online só se firmou mesmo com as creepypastas.
2chan, um lugar mágico e inocente
4chan, um lugar ainda mais mágico e inocente
Uma das mais antigas existentes é a da "Estação Kisaragi", postada no 2chan, fórum japonês. A história foi postada por um usuário inicialmente anônimo no tópico "Poste alguma coisa estranha que aconteceu com você". Ao longo do texto, o internauta relata em "tempo real" os estranhos acontecimentos que se deram com ele em uma estação de trem que não deveria existir. O relato era contado como se fosse verídico. O internauta afirmava que estava em um trem que não parava e estação nenhuma fazia vinte minutos, e quando finalmente aconteceu, foi em uma estação chamada Kisaragi, a qual nenhum dos outros membros do fórum sabiam onde ficava (até porque não existe). Conforme a discussão avançava, os acontecimentos ficavam mais estranhos. Mas isto é assunto para outro blog...(você pode conferir a versão completa e comentada no "Macaco do Terror")
Já em 2005, surgiu um dos maiores ícones da história das creepypastas, Jeff the Killer. Inicialmente apenas como uma imagem editada, o personagem começou a aparecer em várias lendas a partir de 2008, quando se popularizou por meio de outra edição da imagem. Frequentemente, a foto era colocada junto dos dizeres "Vá dormir!".
Imagem original (2005)
Imagem mais conhecida (2008)
"Transmissão especial NNN" (2007), vídeo que popularizou a imagem
A versão original da lenda dizia que Jeff era um adolescente que ao tentar limpar o banheiro com ácido acabou destruindo seu próprio rosto. Depois disto, ele nunca mais foi o mesmo. Junto de seu irmão mais velho, Liu, ele busca fazer um favor ao mundo, matando os humanos que o infestam.
"Jeff the Killer" (2008), versão original da creepypasta
Em 2007, outra popular creepypasta surgiu nas profundezas da internet, "Username666". Inicialmente postado em 28 de dezembro como um vídeo do NicoNico Douga pelo usuário nana825762, a produção acabou sendo editada para o YouTube em 26 de fevereiro de 2008, onde se popularizou. A partir daí, história foi convertida em uma lenda, sendo repassada em diversos fóruns e blogs. Basicamente trata do relato de um usuário banido pelo YouTube por postar conteúdos muito "gráficos" por assim dizer.
"Username666" (2008)
Já em 2008, foi a vez de "smile.dog", a creepypastas que girava em torno da imagem de um cão rusky siberiano. Caso uma pessoa recebesse esta foto, ela enlouqueceria e acabaria por morrer. Dizem que a história surgiu no tópico "paranormal" do 4chan, versão americana do 2chan.
Imagem original
Esta imagem passou a ser associada com a lenda, posteriormente
E em 2009, surgiu uma creepypasta que deu início à moda de se inventar supostos "episódios perdidos" de desenhos animados: Suicide Mouse. A lenda surgiu em 25 de novembro daquele ano, quando um perturbador animação foi postada no YouTube, sendo supostamente um capítulo nunca postado do Mickey Mouse.
Versão original (2009)
Versão completa (2009)
Que fim levou?
As creepypastas continuaram populares na primeira metade dos anos 2010. Porém devido à saturação, especialmente das lendas de episódios perdidos, o meio acabou gerando muitas creepypastas malfeitas e cheias de clichês. A decadência da qualidade, somada a uma maior popularização da internet, levaram à perda de interesse por este tipo de história. De acordo com "Know your Meme", a procura pelo termo decaiu drasticamente desde 2014.
Os anos 2000 eram outros tempos. Mais inocentes por assim dizer. Hoje em dia, dificilmente se assusta alguém com qualquer lenda ou imagem borrada da internet, as pessoas estão mais "vacinadas".
O hoje onipresente YouTube mudou muito deste sua fundação. Nos anos 2000, antes da higienização da plataforma, das grandes empresas tomarem conta, do YouTube Kids, do YouTube Premium, do "adpocalipse", e de outras tendências irritantes, enfim, quando a internet ainda vivia no velho oeste, o Youtube era completamente diferente.
Precisamos voltar lá para 2005, quando três caras aleatórios criaram o Youtube e lançaram o primeiro vídeo da plataforma ("Me at Zoo"), a hospedagem de vídeos na internet ainda era muito descentralizada. Quando se clicava na aba "vídeos", você poderia encontrar diferentes sites ofertando variados conteúdos. O YouTube mudou tudo. Com o passar dos anos, qualquer um poderia lançar seu vídeo na internet, e quem quisesse encontrar algum conteúdo, obrigatoriamente passaria pelo Youtube.
Interface do YouTube em 2005
Foi a partir de 2006 que o site começou a se popularizar. Naquela época, a plataforma era composta basicamente de vídeos aleatórios com resolução de 360p (padrão de câmera digital). O que os internautas mais queriam era gravar um vídeo que se tornasse viral e aparecesse na televisão. Fazer 1 milhão de views era digno de reportagem, enquanto que hoje é necessário atingir 1 bilhão.
Típico vídeo da época. O vídeo original do "Numa Numa" (2006) se tornou um dos primeiros virais do Youtube
"Charlie bit my finger" (2007)
Dramatic Look (2007)
As pessoas, em média, não seguiam youtubers, ao invés disso, elas iam atrás de vídeos. Embora existissem algumas exceções como o Guilherme Zaiden (primeiro youtuber brasileiro) e o Zé Graça.
"Diário de um Emo - Primeiro Emprego" (2008) , de Guilherme Zaiden
"Comercial Japonês Doido", do Zé Graça
Já nos primeiros do YouTube eram comum vídeos musicais tais como AMVs e remixes. Eram vídeos mais simples, geralmente feitos com o Movie Maker do Windows XP, sendo que uma das marcas desta época é justamente a introdução e os créditos com a tela azul. As músicas mais utilizadas eram "Bodies (Swimming Pool)", "Dragonstea din tei (O-Zone)" e as da banda Linkin Park. Um anime popular para vídeos do tipo era Naruto.
"Devil Kirby AMV" (2006)
"Rock lee vs Gaara - Linkin park" (2008)
Ainda nesta questão musical, eram comuns os sparta remix, que eram mashu-ups baseados na cena "This is Sparta" do filme 300. Este tipo de vídeo surgiu em 2007.
"Squidward has a screaming sparta remix!" (2009)
Interface do YouTube em 2007
Como já foi dito antes, o Movie Maker era o principal software de edição utilizada, sendo uma marca registrada do período. Muitas produções eram apenas um sequências de imagens com uma música ao fundo e alguns textos colocados em cima. Este formato era o mais comum para vídeos que traziam uma canção como tema principal.
"future gen. consoles wii2 ps4 xbox720?" (2008)
"Jeff the Killer" (2008)
"Hinata Theme Song" (2008)
No que se refere a vídeos de jogos, as gameplays costumam não ter narração, apenas a jogatia. Detonados, TAS e Walktrough eram tipos abundantes. Como esquecer daqueles vídeos mudos em 240p com a marca d´água "UnregistredHypercam". Como em toda regra há uma exceção, um caso clássico seria o já citado Zé Graça, o qual volta e meia perdia o seu canal e precisava recomeçar do zero. Ele teve não sei quantos canais diferentes nesta época.
"Mario na fase do cogumelo do sol tunado", do Zé Graça
E por falar em games, sem sombra de dúvida o tema mais comum da internet daquela época era o Super Mario. Boa parte dos vídeos publicados tinham alguma coisa a ver com narigudo, pode-se dizer que o personagem dominava o antigo YouTube. Aí eram remixes, fanimations, gameplays, hacks, fanarts, animações oficiais, bloopers, etc.
"Super Mario world bloopers" (2007), este vídeo costuma ser engraçado...
"Mario Hii - Numa Numa" (2007)
"Yoshi's Island Eggventures - 01 - Snegg Attack" (2009)
Outro personagem recorrente era o Bob Esponja, afinal de contas é o desenho mais popular dos anos 2000.
"Bob Esponja e Death Note" (2008)
"Bob Esponja na China" (2008)
"SpongeBob Hemppants" (2008)
Este era um lado obscuro daquele época, como não havia muitas questões de direitos autorais no YouTube, as pessoas podiam procurar episódios de séries e desenhos na própria plataforma com mais facilidade. No meio disso, era normal uma criança ir em busca de sua animação favorita e acabar se deparando com versões adultas feitas por fãs, como o Bob Esponja drogado ou mesmo os infames YouTube Poop BR. Este tipo de vídeo já foi comentado aqui no blog (link), mas em resumo é o uso de edições pesadas em conteúdos já existentes com o intuito de gerar humor ou simplesmente irritar o expectador.
"SÓ UMA MORDIDA (2009), segunda vez que uso este poop de exemplo
"MADRUGA IN THE DARK.wmv" (2009)
Uma praga do YouTube daquela época era os tais jumpscares, os famosos vídeos de sustos (também já tem post disso). E junto deles, os vídeos de supostas mensagens subliminares.
"Mensagem subliminar no jogo Super Mario World" (2009)
Enfim, esta época mais simples acabou ficando para trás. Só o que resta é reassistir os vídeos antigos, ou pelo menos o que sobrou deles, já que muitos foram excluídos ou derrubados pelo próprio YouTube.
Interface do YouTube em 2009
Que fim levou?
Estes tipos de vídeos continuaram predominantes até 2011, mais ou menos. A partir de 2012, o YouTube já estava se profissionalizando, com a monetização se tornando algo mais abrangente. No final do ano, "Ganganam Style" se tornou o primeiro vídeo a atingir 1 bilhão de views, elevando o padrão de viralização a outro nível.
Nos anos seguintes, o processo de centralização e higienização do YouTube se intensificou, tendo em vista a chega das grandes empresas à plataforma. Com isso, vieram todos os males atuais, como anúncios excessivos, clickbaits, YouTube Kids, pacotes premium, etc.
Nos anos 2000, a internet e programas de edição mais acessíveis (Movie Maker) permitiram que pessoas de mente deturpada finalmente pudessem expressar sua criatividade. E é aí que surgem os YouTube Poop (YTP), quando piadas internas puderam ser compartilhadas com o mundo. Basicamente os YTP são edições extremas de conteúdos já existentes, geralmente animações, de forma que gere algo engraçado e completamente desvirtuado de seu contexto original. Os principais recursos eram a sobreposição de elementos (memes) em cima da imagem original, cortes secos para tentar fazer os personagens dizerem outra coisa, mashup com outros conteúdos, etc.
O primeiro poop surgiu antes do próprio YouTube, sendo postado em 22 de dezembro de 2004 com o título "The Adventures of Super Mario Bros. 3 REMIXED!!!" Era chamado de poop pelo próprio criador por causa da baixa qualidade intencional de edição (Movie Maker).
Dois anos depois, em 27 de novembro de 2006, o vídeo foi publicado no YouTube e renomeado para "I'D SAY HE'S HOT ON HOUR TAIL". Isto abriu a caixa de Pandora e iniciou a era dos YTP. Era comum se pesquisar alguma coisa na internet e acabar se deparando com um vídeo desses ao invés do desejado. Então, muitos "poopers" criavam este conteúdo apenas para irritar.
O alvo preferido era o Mario, tanto os desenhos animados quanto as cutscenes do CD-i. Além dele, também eram comum os poops baseados em Zelda (para CD-i), As Aventuras de Sonic, e Bob Esponja.
Em 2007, foi publicado um dos YTP mais influentes já lançados: "What is Spaguetti?", o qual ajudou a popularizar o gênero.
"Youtube Poop - What is Spaghetti?" (2007)
Existia também uma variação dos YTP concentrada apenas em vídeos musicais, nos quais algum personagem era editado e remixado até soar como se ele estivessem cantando uma música. Este tipo de poop era chamado de YTPMV (YouTube Poop Music Video).
"Hop! Hop! Pingas Lift" (2009)
Além disso, também eram comuns os sparta remix. Não é bem um YTP, mas está na mesma seara.
"Squidward has a screaming sparta remix!" (2009)
E quanto ao Brasil? Bem, por aqui este tipo de vídeo recebe o nome de YTPBR e possui algumas particularidades, como a inclusão de temas como Pica-Pau e Chaves. Por mais que o primeiro poop brasileiro tenha sido publicado já em 23 de março de 2006, a comunidade brasileira só foi realmente se formar em 2008. Antes, era comum que os internautas nacionais apenas compartilhassem e discutissem os vídeos americanos em fóruns. Foi a partir do Orkut que os YTPBR se popularizaram.
"cocaína na delegacia" (2006), primeiro YTPBR
Muitas infâncias foram traumatizadas. Tudo que se queria era encontrar trechos de episódios de desenhos animados, mas ao invés disto se tinha......isso:
"SÓ UMA MORDIDA" (2009)
Este vídeo foi feito pelo usuário "youcube", o qual foi responsável por trazer ao YouTube a versão dublada de "Mamãe Luigi", episódio do desenho do Mario World.
Por fim, não poderíamos esquecer de uma das grandes estrelas desta época: o Weegee. Basicamente era um estranho design do Luigi, presente na versão de PC de "Mario is Missing". O personagem era figura recorrente nos vídeos da época.
Que fim levou?
Os YTP continuaram populares por mais alguns anos, mas perderam força em meados dos anos 2010, especialmente a partir de 2016. Vários foram motivos, entre eles a "higienização" da plataforma querer ficar mais amigável às empresas. O aumento da profissionalização dos vídeos, com maior qualidade de edição e imagem, levaram a uma certa descaracterização do gênero. Por fim, a questão dos direitos autorais derrubou vários vídeos e tornou perdida grande parte da história dos YTP.
Especificamente no contexto do Brasil, outro grande problema foi a divisão da comunidade de YTPBR, cada vez mais segmentada e envolta em rixas.
Infelizmente, um pedaço da antiga internet agora se encontra perdido para sempre.